quarta-feira, 29 de março de 2017

Ponto e Vírgula

Sei dizer, descontraidamente, para que pareça cômico, aquilo que creio ser  verdade. Melhor esconder, dos homens ferozes, que avançam naqueles que vomitam sinceridade. A piada nunca falha, agrada todos os públicos e os cérebros ingênuos nunca captam as mensagens. De certa forma é um desperdício, porque mesmo indiretamente falado, não se é entendido, sendo assim, foi apenas perda de tempo.
Tenho de admitir a braveza de quem solta tudo o que pensa, não por fazer isso, mas por conseguir viver sozinho. Até porque, quem fica perto de quem expõe as verdadeiras faces?
O preço para se tirar da garganta os milhares de cascalhos é viver confinado, mas não sei dizer se é de todo mal, porque não conheço o outro lado, quase sempre sou omisso, o pacifista "deixa disso". É um saco, mas preserva meu ciclo social.
Não da para enganar todo mundo, talvez meu silêncio seja só medo da retruca, imagina só, o mundo resolver abrir a boca e mostrar também o quanto sou sujo.
Bem, o mundo sobrevive, enquanto todo mundo finge, ele gira bem, sempre foi assim. Por que mexer nessas coisas agora?

sábado, 28 de novembro de 2015

Patamares

Seu calcanhar cansado, do áspero chão rude, faz do caminho distante demais apesar da curta distância. O muro sólido, impenetrável de seu coração solitário, é incompreensível para quem não vê a solidão estampada, ou sofrimento passado, quem dirá os obstáculos. Em ver, seu sonho abandonado, aflige o peito empático dos simpatizantes com sua caminhada. E seu rosto amargo de um choro adocicado, que carrega em sua queda todo o brilho de seus olhos. Como achar um Norte, sem nem ao menos o horizonte é visível? Quais são os patamares? Se de tão sonhada se tornou utópica, me responda: Onde se esconde a felicidade? Consolidar algo que não é definido, beira ao precipício mental. E autojulgar-se proprietário do inexistente é o flagelo humano ao poço profundo. Os dedos que constantemente tocam a face, delineando os olhos, voltam encharcados. O medo do futuro, o mal dos ansiosos, das bruxas videntes que apresentam em suas mãos apenas escolhas terríveis. Como ser forte? Mais fácil desistir, fantasiar, deixar que o mundo guie.  Guardar seus sonhos no bolso daquela calça de inverno, que assim como a estação, só desperta uma vez ao ano. Passageiro. O restante do tempo deixá-lo em uma gaveta escura e umedecida, mas acompanhado, dos ácarosTudo bem, conforta saber que algo está mudando, um ponteiro no relógio, um dígito no calendário. Desejar que o tempo passe, nada mais óbvio para provar a infelicidade. Quem é feliz deseja o contrário.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Planejar

Hoje acordei com intenso desejo de ter um balão. Ah que sonho lindo, podia sentir o vento soprando, a vista deslumbrante, sensação de liberdade. Não existia antes do balão, eu já o tinha, não havia meios, apenas os fins.
Mas que coisa, a realidade é algo doido, me puxou pelo pé de um sonho flutuante.
Acordado e parando para pensar, o gás está caro.  Como mantê-lo no alto? O ar que passa no cano de água é cobrado, a conta está alta, sendo assim, suponho que se o utilizar, também será cobrado. Tudo bem, pode ser que haja mesmo um preço para ser feliz, se sentir realizado, mesmo parecendo caro. Meu balão está quase lá, não deixo o desânimo me abalar. 

Agora preciso de alimentos, mas que absurdo. Quando foi que se alimentar ficou difícil? Quando algo essencial à nossa existência passou a ser algo tão comerciável? Inacreditável! Se paga pela comida ou pelos agrotóxicos? Levo o que preciso, apenas o meu corpo, que vez ou outra fica dolorido, ataca minha alergia, resfria. Parece que não sou o vigor máximo da saúde. A vertigem antes mesmo de sair do chão. O que está acontecendo? Era tão simples no sonho.
Acho que meu balão partiu sem mim enquanto a realidade me distraia. E cá entre nós, quantos balões não partem?

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Simples Presença


E de tão só, torna-se vazia a companhia presente, mas quase inexistente. Lança um solo de monólogo um corpo apenas visível. Se estar só é ruim, quem dirá em companhia. 
Não se pode ter tudo, mas ver tudo que tem ofuscando a Luz no fim do túnel, deverás é uma tortura severa demais até para os mais insensíveis. Todo amor contido em um peito apertado pronto para explodir, embarreirado pela falta de tempo; o cansaço acumulado. 
É como uma estante repleta dos melhores livros a serem escritos, entretanto empoeirados, parados, nem sequer iniciados. O que seria um best seller se torna um sonho utópico de um amor unilateral inexplorado. 
Difícil é ter olhos para enxergar e não se entregar a boa conduta da recompensa futura, porque os laços estão formados e alguém há de inaugurar o que tem por trás deles. 
Sincera solidão paciente, que mantém viva seu sonho de liberdade, sonho de desalojar um corpo que sofre com sua presença. Falta o herói necessário. 
Adormeceu e contigo levou o entusiasmo, a chama poética tão exaltada pelos poetas. 
Deixe estar, que vá até onde der, porque a maré sempre leva a algum lugar, não faz diferença se é boa ou ruim, mas que os braços continuem a lutar, já que, se o corpo boiar, não se tem mais vida.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Eu conheci a vida

Eu conheci a vida. De perto. Do nada, estava bem ali na minha frente. Para os céticos, amor a primeira vista é algo sem fundamentos, mas eu garanto: Foi amor a primeira vista. Ah, as relações amorosas, beiram o clichê, geralmente conturbadas, turbulentas, insanas, mas ao mesmo tempo, deliciosas. Ela linda, reluzente, emanava algo que não tinha como resistir, atraente, envolvente, convincente... Sua voz persistia em me chamar, como quem clama por minha presença. Eu tolo, insistia em recusar seus convites, fiz como quem não ouvia. De certa forma, tanta beleza causa espanto. Seu sorriso se assemelha ao sol, transcendia a alma, nasce e morre nos mesmos lábios. Tocava uma música o tempo todo, a vida sempre nos chama para dançar, mas quase sempre era difícil de ouvir, muitas vezes o som se dispersa com o som das turbinas dos aviões, com o motor superpotente, com a rotina perturbante. Poucos os que a tiram pra dançar. A luz que seus olhos emitiam era de tamanha esperança transcrita em algo palpável, era como a luz no fim do túnel, a vontade de seguir em frente. Como não se apaixonar? Mas é fato, não há nada mais bipolar do que a vida. Hora nos encanta, outrora nos espanca, nos joga ao chão, fecha os olhos como se nos tirasse a esperança. E vai-se embora, como se nós não fossemos nada, some, nos deixa presos a vida que não queremos. Depois de um tempo volta, com aquele sorriso lindo, como se nada tivesse acontecido, com aquela voz doce e mãos suaves que beiram a perfeição do convencimento. Aproxima-se e diz: “Ainda podemos ser amigos?”. Como negar um pedido deste, então eu respondo: “Sim, amigos”. Mas logo em seguida ela rouba um beijo, abraça forte e o peito começa a queimar aquela paixão descontrolada, que inexplicavelmente ultrapassava as barreiras do rancor. Como negar a vida? Porque sem ela não posso estar vivo, estou preso ao que sou, ao controle que fazem de mim, sem ela conheço uma outra parte, conheço a solidão incessante, a depressão constante e nos dias mais frios eu clamo pela vida. Quando ela volta, mesmo com receios eu a espero de braços abertos, louco para abraçá-la, senti-lá, vivê-lá, segurar forte para que ela não se vá mais embora, fazer todos os seus desejos, atender todos os seus fetiches. Porque a vida quer que eu a siga e quer porque ela sabe como ser feliz. Quando ela insiste em brincar comigo, eu corro atrás dela, insaciavelmente, incansavelmente, descontroladamente até perder o fôlego e ela ao se distanciar sorri como se aquilo fosse a maior peça de teatro do mundo. Afinal, viver é realmente uma peça, é loucura; é ser louco. Nos momentos de paz eu acaricio seu rosto brando e aquela sensação de estar completo me invade, ela me abraça e sua música fica mais forte. Quem me vê me julga insano, porque estou na beira da estrada vendo o sol se pôr no horário comercial, mas a vida quer você nos horários mais difíceis, quer que você abra mão dos compromissos, porque se tem algo que ela odeia são as agendas, as regras. Mas eu estou ali, com a vida, o requisito mais importante para se estar vivo. Porque estar presente é algo distinto, agora viver, saber lidar com as intempéries da vida não é para todos, porque desistir é sempre o caminho mais fácil, mas a vida gosta de ser desejada, gosta de correr e ver atrás alguém buscando por ela. Quando você a alcança, vale a pena, ela te faz abandonar as futilidades, olhar para dentro de si, respirar aliviado. Ela é perfeita e nossa imperfeição é que faz com que seja a relação certa, cada vez que ela nos derruba soltando gargalhadas, nós nos levantamos e ganhamos mais um aprendizado. Para nós as lágrimas que são de tristeza aos olhos da vida é parte do processo. Ela só observa, te espera. Eu conheci a vida e agora não sei viver sem ela. A vida é um trem, com destino não se sabe bem para onde, as pessoas tentaram nomear, mas ela sorri ironicamente ao ver o homem tentando achar respostas para tudo, tentando definir algo que, no fundo não tem definição alguma. Este trem é breve, rápido, mas intenso, constante. A diferença é que alguns nunca saem da estação, outros já o adentram. A vida é uma viagem. E nós? Nós somos passageiros; somos passagem.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ressoar de uma dor ecoante

Teu ombro, meu apoio tão sólido que de solitude deixou saudades. Está de volta velha companheira, fantasma querida. Recoste-se novamente ao meu lado e ceda novamente seus braços. Abrace-me e extraia de mim estás lágrimas que, por tanto tempo foram aprisionadas aos sorrisos da cegueira vulnerável. Sorria doce e vente frio como de costume, traga-me a inspiração que só você conhece. Perdoe-me, por deixá-la de uma forma tão rude, ter fugido com a felicidade sem olhar para trás. Olha que ironia, você já me esperava à frente. Sem rancor, de braços abertos. Eu te espero, sempre, como alguém conformado que reconhece em ti o repouso de meu corpo. Carregada de desespero me aperta o peito, engasga a garganta com uma dose de arrependimento. Meu pranto rotineiro rega seu jardim de lírios. Escuto seu riso, que riso histérico; que solidão amarga, o vazio que invade o peito após a euforia repentina é o futuro que atormenta. Ecoa. De volta o seu canto sedutor a me ludibriar com sua melancolia, que se fosse definida por algo palpável seria um espelho, porque ao vê-la, enxergo a minha. Apesar dos pesares, sempre esteve comigo, não sempre pelos mesmos motivos, mas sempre presente. E algumas das linhas mais belas saíram de suas mãos. Há quem te admire nos outros, eu te admiro em mim, porque cada escudo que protege meu corpo foi colocada através dos seus ensinamentos. Quando fores embora, quando resolver me deixar, deixe uma carta de despedida e me espere no portão de saída para que eu possa te abraçar e quando finalmente se for, no fundo do peito, mesmo que ele esteja sem o seu vazio, sentirei saudades. Mesmo que você parta quando a terra estiver cobrindo os meus olhos. Uma hora eu sei que você vai. Mas por enquanto ressoe, ecoe, já não luto mais, aprendi a sorrir contigo e dizer que está tudo bem, afinal certas coisas são nossas intimidades. Se alguém além de mim conhece o meu interior é você, que ajudou a construí-lo, não sozinha, mas em grande parte dos processos. Esta imagem forte de jovialidade e imponência é facilmente desfeita ao sentir seu toque, quem domava os leões passa a ser amedrontado pelos pássaros. Você companheira, que quando me aperta as mãos me estremece o corpo e quando faz silêncio me aguça o medo. Dor, de canto doce, de rosto belo e solidão incomparável, desmancha esta face temerosa me dê um beijo e faça da batida do meu coração seu eco eterno.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cigarro

Às vezes eu me pergunto: O que as pessoas pensam enquanto fumam um cigarro? Por que fumam cigarros? Algo que de diversas formas carrega anúncios de contra-indicação, a morte anunciada. Observo atento enquanto o papel se desfaz em cinzas, as bochechas inflam e superficialmente não entendo a lógica deste movimento. Vejo o corpo inerte, parado inalando as toxinas, enquanto apreciam distraidamente o horizonte. Milhões de coisas na cabeça. O olhar distante é o detalhe significativo. Neste momento está o sentido do fumo, o precioso momento da revisão da própria vida, a calma da nicotina em unção com o tempo livre. Pouco tempo por sinal, mas certas coisas são resumidas em minutos. Uma linha uniforme, que a embalagem afirma conter centenas de produtos químicos, com fotos assustadoras, mas que por outro lado contém grandes reflexões e em dados momentos conversas agradáveis com quem compartilha do mesmo vício. O desespero do pulmão em se livrar da apneia e as partículas que ficam impregnadas escurecendo a pele que antes refletia o ar puro. Cigarros. Droga lícita, pode causar câncer. Mas afinal o que não daria câncer nestes tempos modernos? A humanidade defasada de empatia causa câncer. E o tempo de exílio, aquele em qual o vício comanda o tempo e exige alguns momentos para que se dedique a ele, em troca proporciona uma conversa franca com a vida. Vejo, da varanda, o fumódromo ocupado pelo corpo, mas não pela alma, cada tragada e vai se esgotando a ampulheta. Talvez seja a fuga, o momento de dispersão dos compromissos de trabalho, uma desculpa convincente para se afastar das responsabilidades. Ou o desespero de mandar para dentro algo que preencha o vazio, mesmo que faça mal, sentir-se acompanhado por alguma coisa, fugir por um segundo da solidão deste mundo povoado de corpos sem vida. Quando o vento leva a fumaça para longe, leva um pouco do que já foi seu, algo que já adentrou seu corpo e diferente de muitos sentiu o seu interior, então o pensamento vai junto com a fumaça que se dissipa ao longo do caminho. Enquanto o cigarro vai desaparecendo nas pontas dos dedos. Mais uma tragada. Cof! Cof! Está ficando difícil fumar com tanta naturalidade, o corpo já não tem a mesma resistência, a garganta começa a reagir com violência. A vida está passando, mas o maço está sempre lá, no bolso, vez ou outro se esquece o isqueiro, olha para o lado e pergunta: “Tem fogo?”. Pronto, cigarro aceso, muita das vezes este é o único diálogo. Novamente o horizonte, e quando esta quase se convencendo de que lá é o lugar para se estar, o filtro demonstra que acabou o tempo, não há mais nada o que pensar. A cura para a ansiedade, raiva, estresse ou só uma diversão de adolescente. Quem sabe só uma obsolescência de um mercado bilionário. Quando recosta-se na parede e lentamente o corpo desliza para que possa se acomodar, ao fim senta-se no chão e quando bate a solidão, a angústia repentina, depressão, a fumaça toma conta do ambiente. A abstinência do corpo, o desejo insano de se tragar, lutar com o próprio desejo, chorar o desespero, o corpo exigindo uma conversa franca consigo mesmo. E as virtudes tão sólidas que nem de perto é o foco, de longe julgam um fumante pelo que ele expressa por fora. E perco horas imaginando o motivo da primeira tragada da vida. Qual foi a revolta? Quem convenceu a aderir esta idéia? Talvez, quem sabe, um ombro amigo nesta hora fosse a melhor droga. E os pés ansiosos, martelando o chão lentamente vão se cessando enquanto o cigarro vai esgotando-se, o respirar aliviado e o filtro – que não tem mais utilidade – é arremessado. Acabou mais um momento de reflexão e o tempo de leitura deste texto foi o suficiente para exaurir mais um cigarro.